Seis objeções ao direito civil Constitucional

Autores

  • Fernando Leal

DOI:

https://doi.org/10.30899/dfj.v9i33.155

Palavras-chave:

Direito Civil Constitucional, Incerteza, Dignidade Humana, Instrumentalismo, Instabilidade Institucional, Onipotência Judicial

Resumo

Após uma reconstrução dos diferentes sentidos da expressão “direito civil constitucional”, são formuladas seis objeções ao movimento. São elas: o aumento potencial de casos difíceis, a carência metodológica, a banalização da dignidade humana, o excesso de paternalismo judicial, o desequilíbrio institucional causado pela onipotência judicial e os riscos de uma plena sobreposição entre os raciocínios jurídico e moral. Os problemas se referem especialmente às pretensões normativas do direito civil constitucional e realçam a importância do trabalho dogmático para que a reorientação do direito civil em determinadas visões sobre a Constituição e concepções sobre a tomada de decisão jurídica não leve apenas a incerteza, banalização da Constituição e instabilidade institucional.

Biografia do Autor

Fernando Leal

Professor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro – RJ. Agradeço, pelos comentários e sugestões a versões anteriores deste artigo, a Gustavo Kloh Muller Neves e Pedro Aleixo. fernando.leal@fgv.br

Referências

ALEIXO, Pedro Scherer de Mello. Verantwortbares Richterrecht. Eine rechtstheoretische und methodenkritische Untersuchung. Tübingen: Mohr Siebeck, 2014.
ALEXANDER, Larry. “Comigo é Tudo ou Nada”: formalismo no direito e na moralidade.
In: RODRIGUEZ, José Rodrigo (Org.). A Justificação do Formalismo Jurídico: textos em debate. São Paulo: Saraiva, p. 165-200, 2011,
ALEXY, Robert. Die Gewichtsformel. In: JICKELI, J.; KREUTZ, P.; REUTER, D. (Org.). Gedächtnisschrift für Jürgen Sonnenschein. Berlin: De Gruyter Recht, p. 771-779, 2003.
______. Hauptelemente einer Theorie der Doppelnatur des Rechts. ARSP, v. 95, nº 2, p. 151-166, abr. 2009.
______. Individuelle Rechte und kollektive Güter. In: ______. Recht, Vernunft, Diskurs. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 232-261, 1995.
______. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008.
______. The Dual Nature of Law. Ratio Juris, v. 23, nº 2, p. 167-182, jun. 2010.
______. Theorie der Grundrechte. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 2006.
______. Theorie der Juristischen Argumentation. 2. ed., Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1991.
______. On Balancing and Subsumption. A Structural Comparison. Ratio Juris, v. 16, nº 4, p. 433-449, dez. 2003.
ÁVILA, Humberto. Neoconstitucionalismo: entre a ciência do direito e o direito da ciência. Revista Eletrônica de Direito do Estado, Salvador, nº 17, p. 1-19, 2009. Disponível em: <http://www.direitodoestado.com/revista/rede-17-janeiro-2009-humberto%20avila.pdf>. Acesso em: 01 out. 2014.
______. Teoria dos Princípios. Da Definição à Aplicação dos Princípios Jurídicos. 10. ed., São Paulo: Malheiros, 2009.
BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, Racionalidade e Atividade Jurisdicional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
BARROSO, Luís Roberto. A Doutrina Brasileira da Efetividade. In: _____. Temas de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, p. 61-79, 2005.
______. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). Disponível em: <http://www.luisrobertobarroso.com.br/wpcontent/themes/LRB/pdf/neoconstitucionalismo_e_constitucionalizacao_do_direito_pt.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2015.
______. A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo – Natureza Jurídica, Conteúdos Mínimos e Critérios de Aplicação. In: ______. O Novo Direito Constitucional Brasileiro. 2ª reimpressão, Belo Horizonte: Fórum, p. 285-329, 2013.
BLACK, Julia. Forms and Paradoxes of Principles-based Regulation. Capitol Markets Law Journal, v. 3, nº 4, p. 425-457, Oxford University Press, set. 2008.
BÖCKENFÖRDE, Ernst-Wolfgang. Grundrechte als Grundsatznormen. Zur gegenwärtigen Lage der Grundrechtsdogmatik. In: ______. Wissenschaft, Politik, Verfassungsgericht. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, p. 189-229, 2006.
CAROZZA, Paolo G. Human Dignity and Judicial Interpretation of Human Rights: a reply. The European Journal of International Law, v. 19, nº 5, p. 931-944, 2008.
COSTA, Helena Regina Lobo da. Dignidade Humana: breves reflexões. In: PASCHOAL, Janaina Conceição; SILVEIRA, Renato de Mello Jorge (Org.). Livro Homenagem a Miguel Reale Júnior. 1. ed., Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, p. 207-218, 2014.
DWORKIN, Ronald. A Matter of Principle. Cambridge: Harvard University Press, 1986.
______. Law’s Empire. 8. ed., Cambridge: Harvard University Press, 1993.
EIDENMÜLLER, Horst. Effizienz als Rechtsprinzip. 3. ed., Tübingen: Mohr Siebeck, 2005.
FACHIN, Luiz Edson. A Reforma no Direito Brasileiro: novas notas sobre um velho debate no direito civil. In: FACHIN, Luiz Edson; TEPEDINO, Gustavo (Org.). Obrigações e Contratos – obrigações: estrutura e dogmática. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 229-236, 2001, (coleção doutrinas essenciais, v. 1).
FEINBERG, Joel. Legal Paternalism, Canadian Journal of Philosophy, v. 1, nº 1, p. 105-124, set. 1971.
FRANKENBERG, Günter. Tyrannei der Würde? Paradoxien und Parodien eines Höchstwertes. In: do mesmo autor (Org.). Autorität und Integration. Suhrkamp, p. 270-282, 2003.
FULLER, Lon L. Positivism and Fidelity to Law: A Reply to Professor Hart, Harvard Law Review 71, p. 630-672, 1958.
GORDLEY, James; MEHREN, Arthur Taylon Von. An Introduction to the Comparative Study of Private Law: readings, cases, materials. New York: Cambridge University Press, 2006.
GORDLEY, James. Foundations of Private Law. Property, Tort, Contract, Unjust Enrichment. New York: Oxford University Press, 2006.
GREEN, Leslie. Law as a Means. In: CANE, Peter (Ed.). The Hart-Fuller Debate in the Twenty-First Century. Oxford and Portland: Hart, 2010. Disponível em: <http://ssrn.com/abstract=1351304>. Acesso em: 05 ago. 2015.
HABERMAS, Jürgen. Faktizität und Geltung. 4. ed., Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1994.
HART, H.L.A. The Concept of Law. Oxford [u.a.]: Oxford University Press, 1961.
______. Positivism and the Separation of Law and Morals. Harvard Law Review, p. 593-629, 1998.
HENRY, Leslie Meltzer. The Jurisprudence of Dignity. University of Pennsylvania Law Review, v. 160, set. 2011. Disponível em: <http://ssrn.com/abstract=1928768>. Acesso em: 05 ago. 2015.
HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Trad. Gilmar Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1991.
HUSAK, Douglas N. Legal Paternalism. In: LaFOLLETTE, Hugh (Org.). The Oxford Handbook of Practical Ethics. New York [u.a.]: Oxford University Press, p. 387-412, 2003.
JESTAEDT, Matthias. Die Abwägungslehre – ihre Stärken und ihre Schwächen. In: Otto Depenheuer et al. (Org.). Staat im Wort. Festschrift für Josef Isensee. Heidelberg: C. F. Müller, p. 253-275, 2007.
KANT, Immanuel. Grundlegung zur Metaphysik der Sitten. Sttutgart: Philipp Reclam, 2008.
KELSEN, Hans. Reine Rechtslehre. 1. ed., Tübingen: Mohr Siebeck, 1934.
LEAL, Fernando. Argumentando com o Sobreprincípio da Dignidade da Pessoa Humana. Arquivos de Direitos Humanos, v. 7, p. 41-67, 2007.
______. Comments on Susanna Pozzolo’s ‘Easy case and legal routine’. Revista Brasileira de Filosofia 240, ano 62, v. 240, p. 214-219, jan./jun. 2013.
______. Irracional ou Hiper-racional? A ponderação de princípios entre o ceticismo e o otimismo ingênuo. A&C – Revista de Direito Administrativo e Constitucional, Belo Horizonte, ano 14, nº 58, p. 177-209, out./dez. 2014.
______. Todos os Casos jurídicos são Difíceis? Sobre as Relações entre Efetividade, Estabilidade e Teorias da Decisão Constitucional. Revista de Direito do Estado, 16, p. 87-116, 2009.
______. Ziele und Autorität. Baden-Baden: Nomos, 2014.
LÔBO, Paulo. Novas Perspectivas da Constitucionalização do Direito Civil. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 18, nº 3754, 11 out. 2013. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/25361/novas-perspectivas-da-constitucionalizacao-do-direito-civil>. Acesso em: 04 ago. 2015.
MARMOR, Andrei. Interpretation and Legal Theory. 2. ed., Oxford e Portland: Hart, 2005.
MORAES, Maria Celina Bodin de. A Caminho de um Direito Civil Constitucional. Texto disponível em: http://empreendimentosjuridicos.com.br/site/wp-content/uploads/2015/06/CaminhosDireitoCivilConstitucional-Maria-Celina-B-Moraes.pdf. Acesso em: 01 set. 2015.
______. Danos à Pessoa Humana: uma leitura civil constitucional dos danos morais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
______. O Princípio da Dignidade Humana. In: ____. (Org.), Princípios do Direito Civil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, p. 1-60, 2006.
NEUMANN, Ulfried. A Dignidade Humana como Fardo Humano – ou como utilizar um direito contra o seu respectivo titular. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Dimensões da Dignidade. Ensaios de Filosofia do Direito e Direito Constitucional. 2. ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, p. 225-240, 2009.
NEVES, Marcelo. Princípios e Regras: do juiz Hidra ao juiz Iolau. In: COSTA, José Augusto F.; ANDRADE, José Maria Arruda; MATSUO, Alexandra Mery H. (Orgs.). Direito: teoria e experiência. Estudos em homenagem a Eros Roberto Grau. São Paulo: Malheiros, t. II, p. 1149-1172, 2013.
PERLINGIERI, Pietro. A Doutrina do Direito Civil na Legalidade Constitucional. In: TEPEDINO, Gustavo (Org). Direito Civil Contemporâneo. Novos Problemas à Luz da Legalidade Constitucional: Anais do Congresso Internacional de Direito Civil Constitucional
da Cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Atlas, p. 1-11, 2008.
______. Perfis do Direito Civil: introdução ao direito civil constitucional. Trad. Maria Cristina de Cicco. 2. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
POZZOLO, Suzanna. Easy Case and Legal Routine. Revista Brasileira de Filosofia 240, ano 62, v. 240, p. 195-213, jan./jun. 2013.
______. About Fernando Leal’s Commentary. Revista Brasileira de Filosofia, ano 62, v. 240, p. 220-221, jan./jun. 2013.
RAZ, Joseph. The Argument from Injustice, or How not to Reply to Legal Positivism. In: PAVAKLOS, George (Org.). Law, Rights and Discourse. The Legal Philosophy of Robert Alexy. Oxford: Hart, p. 17-35, 2007.
______. Incorporation by Law. In: _____. Between Authority and Interpretation. New York [u.a.]: Oxford University Press, p. 182-202, 2009.
______. Reasoning with Rules. In: _____. Between Authority and Interpretation. New York [u.a.]:Oxford University Press, p. 203-219, 2009.
SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e Relações Privadas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
SCHAUER, Frederick. Balancing, Subsumption and the Constraining Role of Legal Text. In: KLATT, Matthias (Org.). Institutionalized Reason: the jurisprudence of Robert Alexy. New York [u.a.]: Oxford University Press, p. 307-318, 2012.
______. Formalism. The Yale Law Journal, v. 97, nº 4, p. 509-548, mar. 1988.
______. Playing by the Rules: a philosophical examination of rule-based decisionmaking in law and life. Oxford: Clarendon Press, 1991.
______. Thinking Like a Lawyer. Cambridge: Harvard University Press, 2009.
SANCHÍS, Luis Prieto. Neoconstitucionalismo y Ponderación Judicial. In: CARBONELL, Miguel (Org.). Neoconstitucionalisamo(s). Madrid: Editorial Trotta, p. 123-158, 2003.
SARLET, Ingo Wolfgang. As Dimensões da Dignidade da Pessoa Humana: construindo uma compreensão jurídico-constitucional necessária e possível. In: ______. (Org.) Dimensões da Dignidade. Ensaios de Filosofia do Direito e Direito Constitucional. 2. ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, p. 15-43, 2009.
SCHLINK, Bernhard. Freiheit durch Eingriffsabwehr – Rekonstruktion der klassischen Grundrechtsfunktion. Europäische Grundrechte Zeitschrift, p. 457-468, 1984.
SCHOPENHAUER, Arthur. Die Welt als Wille und Vorstellung. 1. ed., Leipzig: Brodhaud, 1844.
SHAPIRO, Scott J. Law, Morality, and the Guidance of Conduct. Legal Theory, v. 6, nº 2, p. 127-170, jun. 2000.
______. Legality. Cambridge: The Belknap Press of Harvard University Press, 2011.
SILVA, Virgílio Afonso da. O Proporcional e o Razoável. Revista dos Tribunais, v. 798, p. 23-50, 2002.
______. A Constitucionalização do Direito. Os Direitos Fundamentais nas Relações entre Particulares. São Paulo: Malheiros, 2005.
STONE-SWEET, Alec; MATHEWS, Jud. Proportionality Balancing and Global Constitutionalism. Faculty and Affiliate Scholarship Series, Paper 14, 2008. Disponível em: <http://digitalcommons.law.yale.edu/fss_papers/14/>. Acesso em: 01 out. 2014.
STONE, Martin. Focalizando o Direito: o que a interpretação jurídica não é. In: MARMOR, Andrei (Org.). Direito e Interpretação. Trad. Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, p. 47-143, 2004.
SUNDFELD, Carlos Ari. Princípio é Preguiça?. In: ______. Direito Administrativo para Céticos. São Paulo: Direito FGV/Malheiros, p. 60-84, 2012.
SUNSTEIN, Cass R. Must Formalism be Defended Empirically?. The Univeristy of Chicago Law Review, v. 66, nº 3, p. 636-670, summer 1999.
TAMANAHA, Brian Z. Law as a Means to an End: threat to the rule of law. New York: Cambridge University Press, 2006.
TEIFKE, Nils. Das Prinzip Menschenwürde. Zur Abwägungsfähigkeit des Höchstrangigen. Tübingen: Mohr Siebeck, 2011.
TEPEDINO, Gustavo. O Direito Civil Constitucional e suas Perspectivas Atuais. In: ______. (Org.). Direito Civil Contemporâneo. Novos Problemas à Luz da Legalidade Constitucional: Anais do Congresso Internacional de Direito Civil Constitucional da Cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Atlas, p. 356-371, 2008.
______. Premissas Metodológicas para a Constitucionalização do Direito Civil. In: ______. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, p. 1-22, 2004.

Downloads

Publicado

2015-12-30

Como Citar

Leal, F. (2015). Seis objeções ao direito civil Constitucional. Revista Brasileira De Direitos Fundamentais & Justiça, 9(33), 123–164. https://doi.org/10.30899/dfj.v9i33.155