MULHERES E INTERSECCIONALIDADE

a invisibilidade da perspectiva negra no direito internacional dos direitos humanos

Autores

  • Rafael Clementino Verissimo Ferreira Universidade de Itaúna - UIT/Itaúna - MG
  • Edilene Lôbo Universidade de Itaúna - UIT/Itaúna - MG https://orcid.org/0000-0003-4043-0286

DOI:

https://doi.org/10.30899/dfj.v18i48.1109

Palavras-chave:

mulher negra, interseccionalidade, Raça e classe, Direito Internacional dos Direitos Humanos

Resumo

A Carta da ONU, de 1945, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, foram responsáveis por elevar ao plano internacional as previsões de igualdade entre homens e mulheres, partindo da necessidade de cobrir o vácuo protetivo historicamente estabelecido. Trinta e quatro anos depois da Carta da ONU foi promulgada a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), no âmbito global, enquanto no continente americano só em 1994 chegava a Convenção de Belém do Pará, com acréscimos acerca da eliminação da violência contra a mulher, vigentes até a atualidade. Todavia, nenhum desses documentos trata da perspectiva das mulheres negras, longe de critérios de interseccionalidade que permitam o combate da abissal desigualdade que aflige especificamente esse grupo, ainda mais minorizado quando se observa o recorte de gênero e raça. Problematizando essa falta, o presente artigo utiliza-se do método hipotético-dedutivo, lançando mão da revisão bibliográfica e documental, justificando-se pelo necessário entendimento de que a proteção às mulheres, em âmbito nacional ou internacional, precisa compreender intersecções que combinem gênero e raça, para cogitar superação das lacunas que o sistema de direitos tradicionais não aborda.

Biografia do Autor

Rafael Clementino Verissimo Ferreira, Universidade de Itaúna - UIT/Itaúna - MG

Mestre em Proteção dos Direitos Fundamentais, na linha de Processo Coletivo, pela Universidade de Itaúna - UIT. Bacharel em Direito pela Universidade de Itaúna - UIT. Advogado.

Edilene Lôbo, Universidade de Itaúna - UIT/Itaúna - MG

Doutora pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2010). Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (2005). Graduada em Direito pela Universidade de Itaúna (1995). Professora do Mestrado e da Graduação em Direito pela Universidade de Itaúna. Tem experiência na área do Direito Processual Civil, Penal e Eleitoral; Direito Administrativo, Eleitoral e Constituciona

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Publicado

2023-07-31

Como Citar

Ferreira, R. C. V., & Lôbo, E. (2023). MULHERES E INTERSECCIONALIDADE: a invisibilidade da perspectiva negra no direito internacional dos direitos humanos. Revista Brasileira De Direitos Fundamentais & Justiça, 18(48). https://doi.org/10.30899/dfj.v18i48.1109