Direito à Convivência Familiar e Separação Compulsória:

Discriminação e Estereótipos no caso Mães Órfãs de Belo Horizonte à luz dos Marcos Normativos Internacionais e Nacionais

Autores

  • Juliana Alvim UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG
  • Clara Viana Lage Meirelles Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
  • Daniella Monteiro de Lima Borges Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

DOI:

https://doi.org/10.30899/dfj.v23i52.1685

Palavras-chave:

separação compulsória de crianças, Discriminação, Estereótipo, direito `a convivência familiar, mães órfãs

Resumo

O artigo examina a desconformidade entre normas de proteção à infância e à convivência familiar e sua aplicação no Brasil, onde a separação compulsória de bebês de suas famílias é banalizada a partir da aplicação discriminatória da lei e do uso de estereótipos de gênero, raça e classe. Apresenta um panorama dos sistemas internacionais e nacionais de proteção de direitos humanos e analisa o caso das Mães Órfãs de Belo Horizonte. Mostra como características não conformativas e condições de marginalização justificam decisões judiciais que promovem a separação de crianças de suas famílias de origem e como essas decisões reforçam estereótipos, perpetuam desigualdades e responsabilizam mulheres vulneráveis por problemas estruturais, presumindo risco e incapacidade de maternagem, violando seus direitos e de seus filhos.

Biografia do Autor

Juliana Alvim, UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG

Professora Adjunta de Direito na Central European University (CEU) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde coordena a Clínica de Direitos Humanos da UFMG. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5887911663531885.

Clara Viana Lage Meirelles, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Graduada, Mestre e Doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Advogada e Orientadora da Clínica de Direitos Humanos da UFMG. Integrante da equipe de Coordenação da Pesquisa “Condições para o exercício de direitos sexuais e reprodutivos de mulheres usuárias de drogas em Belo Horizonte/MG”, desenvolvida pela Clínica de Direitos Humanos da UFMG em parceria com o Fórum Mineiro de Saúde Mental, a Frente Mineira Drogas e Direitos Humanos e a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9786874711178930

Daniella Monteiro de Lima Borges, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Graduada e Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Integrante da equipe de Coordenação da Pesquisa “Condições para o exercício de direitos sexuais e reprodutivos de mulheres usuárias de drogas em Belo Horizonte/MG”, desenvolvida pela Clínica de Direitos Humanos da UFMG em parceria com o Fórum Mineiro de Saúde Mental, a Frente Mineira Drogas e Direitos Humanos e a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6230890266350442

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Publicado

2025-09-05

Como Citar

Alvim, J., Viana Lage Meirelles, C., & Monteiro de Lima Borges, D. . (2025). Direito à Convivência Familiar e Separação Compulsória: : Discriminação e Estereótipos no caso Mães Órfãs de Belo Horizonte à luz dos Marcos Normativos Internacionais e Nacionais. Revista Brasileira De Direitos Fundamentais & Justiça, 23(52). https://doi.org/10.30899/dfj.v23i52.1685